O que é cultura maker e qual sua importância na educação?
Se você é adepto de pôr a mão na massa e encontrar soluções criativas para os seus problemas, sem dúvidas, está muito mais próximo da cultura maker do que imagina.
Já parou para pensar em como a tecnologia facilitou encontrar soluções práticas (e a baixos custos) para nossas necessidades cotidianas? Se antes dependíamos de produtos e serviços existentes no mercado para resolver nossos problemas, hoje é possível que você mesmo produza aquilo que precisa, com um ou dois cliques.
Estamos em um momento em que a inovação, a sustentabilidade e o compartilhamento de ideias se tornaram palavras de ordem. Mais e mais pessoas estão encontrando formas de conceber suas ideias de maneira personalizada, fugindo da escala industrial que persistiu por décadas na cadeia de produção.
Não importa a idade: a curiosidade está associada à capacidade e ao potencial de fazer, sobretudo, com o apoio dos recursos digitais. Agora, imagine o tamanho do espaço que sua escola tem para despertar o gênio inventor em seus alunos e professores?
Para que você compreenda como a cultura maker está revolucionando a educação, neste post vamos explicar seu conceito, de onde surgiu e o que a atividade maker pode fazer dentro das escolas. Acompanhe as próximas linhas!
O que é cultura maker?
Considerado uma extensão da filosofia “Do It Yourself!”, o movimento da cultura maker apresenta a ideia de que qualquer pessoa consegue construir, consertar ou criar seus próprios objetos. Esse movimento começou a tomar forma no final dos anos 1960, absorvendo um pouco do conceito de ausência de regras e independência individual da cultura punk.
Com a revolução digital e a facilidade de acesso aos recursos tecnológicos, essa ideia vem tomando conta de um grande número de pessoas interessadas em criar e compartilhar projetos pautados pela tecnologia.
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De acordo com a revista Galileu Galilei, um dos entusiastas da cultura maker é o ex-presidente norte-americano Barack Obama. Ele teria afirmado que “apoiar o movimento maker é essencial para uma nova revolução industrial”.
A proposta da cultura maker é que as pessoas tornem realidade suas próprias ideias, desenvolvam as próprias tecnologias, dispositivos e ferramentas, em projetos que reforcem suas leituras da sociedade.
Essa noção pode pender tanto para o lado social ou doméstico quanto para o empresarial, mas sempre se pautando pelo cooperativismo e pelo compartilhamento de ideias.
Um dos principais exemplos de cultura maker no Brasil é a Campus Party, tida como a maior experiência tecnológica do mundo. Ela reúne milhares de jovens em torno de “um festival de Inovação, Criatividade, Ciências, Empreendedorismo e Universo Digital”, como descreve o site da organização.
Como a cultura maker está mudando o dia a dia das pessoas?
Um dos principais impactos da cultura maker é a democratização do conhecimento e a agilidade na confecção de produtos. Por décadas, as informações eram restritas e a indústria ditava as regras da produção e da comercialização de qualquer bem.
Com os meios digitais, o acesso às informações ampliou-se profundamente e esse cenário se inverteu: quem passou a ditar as regras dos negócios foi o consumidor. Além disso, com a revolução digital, equipamentos de alto custo foram barateados e as microempresas passaram a ter competitividade ao proporcionarem soluções criativas.
Ainda, as grandes empresas tiveram de modificar suas culturas organizacionais para garantir mais flexibilização diante de tais mudanças.
Por exemplo: grandes organizações passaram a dialogar com os makers para desenvolverem produtos com mais agilidade e que atinjam diretamente as necessidades desse novo consumidor. Com isso, o cenário empreendedor ampliou-se, e a hegemonia da indústria foi quebrada.
Graças à cultura maker, qualquer pessoa pode ser uma espécie de “professor Pardal”. Basta assistir a um vídeo no YouTube que você aprende sobre um produto e pode reproduzi-lo de forma artesanal.
Nesse processo, se você tiver uma ideia inovadora (mesmo com recursos limitados), é possível aplicar a tecnologia disponível e colocá-la em prática de forma independente — para desenvolver protótipos de produtos de uso doméstico ou com fins comerciais.
O que tudo isso tem a ver com educação? Vamos entender, a seguir, como a cultura maker também está revolucionando o ambiente escolar.
Qual é a importância da cultura maker dentro das escolas?
Há tempos, o modelo tradicional de ensino se mostra desmotivador para os alunos, e promover seu engajamento tem sido um dos principais desafios impostos aos professores e à comunidade acadêmica em geral.
A cultura maker, no entanto, surge como grande aliada ao aprendizado, visto que faz da escola um amplo espaço para experimentação e prática do conhecimento.
Além de tornar a escola um ambiente colaborativo de aprendizagem, a máxima do “faça você mesmo” possibilita mais interação entre os estudantes e professores no processo de ensino-aprendizagem, algo inerente à proposta das chamadas metodologias ativas de ensino.
Leia mais: Entenda a Importância e o Papel das Metodologias Ativas de Aprendizagem
Nesse contexto, o professor deixa o milenar papel autoritário para assumir a condição de tutor e instigador da busca pelo conhecimento, uma vez que dialogar e testar possibilidades fazem parte de qualquer construção. A cultura maker na escola cabe desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
Com as devidas adaptações, a escola pode ser tornar um grande espaço maker ao associar o ensino à inovação, substituindo o obsoleto modelo da sala de aula tradicional. Um bom exemplo disso são as aulas de robótica, em que os alunos se tornam inventores de robôs prototipados para resolverem um problema proposto.
Dessa forma, ao mesmo tempo que é desenvolvida a interdisciplinaridade, os estudantes têm a oportunidade de colocar em prática conhecimentos que, outrora, seriam limitados ao papel e à caneta.
Valorizar a atividade maker tem duas grandes vantagens no processo de ensino-aprendizagem. A primeira delas é o abandono de práticas retrógradas que tornam a educação enfadonha para os alunos, principalmente das séries iniciais, as quais devem ser especialmente estimulantes.
Depois, mirando o Ensino Médio, é uma oportunidade de despertar, nos alunos, interesses e habilidades indispensáveis para o mercado de trabalho, como liderança, proatividade e condições técnicas para lidar com a tecnologia.
Mesmo assim, é importante ressaltar que a cultura maker não está estritamente ligada à tecnologia. Como dissemos, os processos artesanais também são abrigados nesses conceitos.
Construir uma horta nos fundos da escola, criar uma exposição permanente ou desenvolver uma engenhoca de papelão são atividades que podem gerar excelentes resultados para o aprendizado.
Afinal, o que é a educação maker?
Você notou que a cultura maker na escola está ligada à criação de soluções ― tecnológicas ou não ― para situações-problema. Com isso, são criados objetos e produtos, bem como realizadas intervenções no espaço educativo ou pela cidade.
Dessa forma, a educação maker é uma forma de ensino, geralmente caracterizada por uma abordagem colaborativa, que usa experiências práticas para encontrar a resolução de problemas.
De maneira mais ampla, a educação maker reafirma um grande interesse do mundo em aproximar os alunos especialmente dos principais assuntos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), áreas-chave que dialogam estreitamente com todas as outras e possibilitam tangenciar inúmeras temáticas. STEM é um acrônimo em inglês para Science, Technology, Engineering, and Mathematics.
O que é um laboratório maker?
Os laboratórios maker, também conhecidos como espaços maker (makerspace, em inglês), são os estúdios onde os estudantes se reúnem em equipes para colaborar e trocar ideias livremente enquanto trabalham em seus projetos, criando, experimentando e testando o que funciona ou não.
Por serem áreas movidas à colaboração, a disposição dos espaços estimula que os alunos aprendam com seus pares, dividindo tarefas, pensando em conjunto e (apenas) recebam tutoria para isso, sem depender o tempo todo de instruções ou de um passo a passo do professor.
Nos laboratórios maker, são os estudantes que dirigem a ação. Para isso, eles contam com uma variedade de materiais, de papel e papelão a peças de Lego e motores, resistências e ferramentas.
Trata-se de uma mistura de materiais de arte, conjuntos de montagem, computadores e muito mais. Cada espaço tem sua própria configuração com base nas necessidades, nos interesses, nos recursos e nos objetivos da atividade proposta.
Uma escola pode construir seu próprio laboratório maker ou adaptar seus espaços para aproveitamento da melhor maneira possível. Pode ser o laboratório de Física, a sala de Robótica, a sala de Artes, espaços como o pátio, o jardim ou até ou um ateliê de artesanato.
Que tipos de atividade maker podem ser realizadas na escola?
Além dos exemplos que já citamos, veja algumas atividades maker analógicas e com recursos eletrônicos que vão encantar os alunos da sua escola.
Criação de produtos ecológicos
A criação de produtos eco é um exemplo de atividade maker para aprendizado para desenvolvimento da temática de sustentabilidade.
Em um ateliê de criação artística, podem ser fabricadas roupas, acessórios e utensílios domésticos com materiais recicláveis, ou a partir do reaproveitamento de itens velhos. Já no laboratório de Química, é possível criar produtos de limpeza biodegradáveis e que utilizem ingredientes naturais. O melhor é que os alunos podem levar para casa!
Marcenaria
Se a proposta da cultura maker é fazer você mesmo, brincar de carpinteiro pode auxiliar os alunos a compreender uma série de conceitos de Matemática e Física e, ao mesmo tempo, construir móveis, utensílios, materiais e até pequenos veículos que eles mesmos podem utilizar no dia a dia.
Para os pequenos, é possível usar materiais pré-fabricados para que eles montem objetos, ao mesmo tempo que se trabalha questões essenciais ao seu desenvolvimento, como espacialidade e coordenação motora.
Prototipagem
Na prototipagem, os alunos constroem diferentes tipos de protótipos, os quais poderão até se tornar objetos e equipamentos comercializáveis. Especialmente com o uso da tecnologia, dessas invenções podem sair excelentes ideias para resolver alguma demanda do dia a dia.
Desafios podem ser propostos, e os alunos terão à disposição várias ferramentas tecnológicas além do computador, que podem incluir microcontroladores, impressoras 3D, materiais fixos etc. Tudo para tornar o invento o mais real possível.
Por que aplicar a cultura maker na sua escola?
Como você pôde perceber, assumir a cultura maker no ambiente escolar reforça o dever transformador que a escola deve ter. Ao assumir posições de vanguarda como essa, o ensino caminha lado a lado com as premissas do mundo atual e atualiza-se para lidar com as novas gerações.
Felizmente, a sala de aula não é mais um espaço de reprodução do conhecimento. Hoje, a informação está nas palmas das mãos, com uma rápida pesquisa no Google. Com isso, o ambiente escolar deve valorizar a prática, o pensamento crítico e o desenvolvimento de atividades que corroborem as exigências do currículo, aproximando-as do mundo real.
Por meio da atividade maker, os professores têm, em suas mãos, ferramentas fundamentais para instigar as chamadas competências do século XXI em seus alunos e, principalmente, dar voz a eles no processo de ensino-aprendizagem. Os estudantes precisam ser protagonistas na evolução dos próprios conhecimentos.
Sua escola está preparada para encarar, de vez, a cultura maker? Deixe um comentário e nos diga qual é a sua opinião sobre como o movimento pode beneficiar a Educação!